sábado, 26 de janeiro de 2008

Amor Fascista

Na aula de História do Mundo Contemporâneo, ingratamente aplicada às 7h das frias madrugadas de outono, um dos assuntos explanados pelo professor foi o regime ditatorial fascista e suas aplicações nos países europeus.

Dentre os textos recomendados para leitura, "Os Fascismos", de Francisco Teixeira da Silva, trazia uma pequena lista de elementos que caracterizavam o regime fascista. Um destes ítens logo saltou do papel enquanto eu destacava as frases mais importantes com um marca-texto. (Marca-textos nunca fizeram muito sentido pra mim... Acabo sublinhando o texto todo. Devo ter algum complexo de nanana que me impossibilita julgar e hierarquizar informações corretamente. Se aquela passagem do texto não é importante, se ela não merece o amarelo-néon da minha caneta, por que o autor a escreveu, então? Mais longe ainda, quem sou eu para definir o que é ou não importante no texto de outrém?)

De volta ao fascismo, um dos pontos do texto que me despertou para uma reflexão sentimentalóide besta foi A anulação do eu. As vontades particulares e a liberdade individual teriam potencial para destruir a coesão coletiva e o sentido de comunidade, predominantes e necessários no regime fascista. Portanto, o homem deveria abandonar a noção de consciência individual em relação à supremacia da comunidade ao qual ele está intensamente integrado.

Automaticamente, fiz uma associação com relacionamentos amorosos: existe todo um discurso chavão de que amar nada mais é do que a entrega total para o outro, é a confiança em seu estado mais puro e sublime. É não se importar mais com você mesmo, abrindo mão de vontades, desejos e pensamentos, em busca do "bem maior". Amar é fazer coisas estúpidas e arriscadas por algo/alguém, sem conseguir explicar racionalmente o motivo de suas ações. A anulação do eu.

Num drama digno de uma ópera de Wagner, um coração arritmado abandona crenças, motivações, valores e vontades. Não é escolha, nem imposição. Simplesmente está lá, permanece lá. É algo exterior, uma "consciência coletiva", diluída aos poucos nas novelas, nas revistas e nas propagandas. Mas, cuidado! No fascismo romântico, final feliz é para poucos.