sábado, 19 de julho de 2008

De um dia de sol ou Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?

Já estava há alguns dias no Nordeste, mas ainda não havia ido à praia... Era domingo. Não gostava de praia domingo... Era mais cheio de gente, portanto menos agradável. E era quase impossível conseguir um bom lugar ao sol no domingo... Não gostava de domingos.
Sentado na areia, sentiu aquele cheiro de filtro solar misturado com suor e areia. Não era desagradável, mas não era o melhor odor do mundo. A praia trazia um conjunto de sensações que ele não pediu.
O tempo estava encoberto, mas nem por isso recusou o mergulho nas águas de Ilhéus. De repente, naquele mar tão tranquilo, sentiu vontade de não voltar mais. Queria se perder, se afogar. Talvez um novo recomeço, como fez Teresa. Todos os vestígios da vida anterior estavam se apagando da sua memória mesmo. Lentamente, em um fade out, suas boas lembranças iam embora, arrasatadas pelas ondas. As ruins não só ficavam, como ganhavam alguma intensidade. Aquelas palavras, ditas por eles assim, muitas vezes sem pensar, ainda machucam. Isso ele não conseguia esquecer.
Não esqueceu também do Bandeira:

"Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não."
(Arte de Amar)

Sua alma era espuma que ganhava forma e/mas persistia na areia, em uma vontade firme de não sumir.